Primeira Infância
Ir. Marcel Van (Joaquim Nguyen Tan Van), nasceu no dia 15 de março de 1928, em uma família cristã. Seu pai, Joaquim Triet era alfaiate e sua mãe Ana Maria, trabalhava no campo de arroz e era parteira. Criança formada com carinho e muita piedade. Ele era alegre, gentil e brincalhão. Sua irmã Ana Lê, lhe foi de grande alegria no seu nascimento. Atualmente é uma quase octogenária irmã redentorista no Canadá.
O desenvolvimento espiritual do menino, que por sinal era muito pequeno, se faz com serenidade e muita profundidade sob a orientação da mãe e de uma das avós. Era apaixonado pelas brincadeiras, deixando mesmo a refeição, mas ao toque do sino deixava tudo. Gostava de rezar o terço e brincar de fazer procissões, como é muito a gosto dos vietnamitas.
Depois do nascimento da irmã, quando tinha 4 anos, é levado para a casa da tia para ajudar na educação. O ambiente não é o mesmo da casa materna, onde a religião era em menor conta. A tia lhes contava a história do santos. Ele se punha a dizer que queria se santo. Era tão pequeno que diziam que seria santo de bolso.
Volta para casa dos pais quanto já tem 6 anos. Faz o catecismo para a primeira comunhão. Sabia de cor as respostas do catecismo. O padre diz: “Nunca pensei que sta criança fosse tão espera e inteligente. Ao fazer a confissão no confessionário, mesmo de pé, não alcançava a grade. Tiveram que trazer um genuflexório para aumentar a altura. Quer muito o diálogo pessoal com Jesus, mas as orações são comuns. Oferece a Deus sua primeira comunhão pelo seu papai, que, depois que seu filho Liêt ficou cego, ele se deu ao jogo e bebida, esquecendo-se da família. Van prometeu não beber vinho por toda a vida. Pouco tempo depois recebe a crisma. Desde logo desejou ser padre. A partir da primeira comunhão este desejo se tornou sempre mais forte.
Vai à escola de Ngam Giao.
Começa a freqüentar a escola. Fica doente. Era mal dos nervos. O motivo era a o gênio do professor duro que batia muito nas crianças. Em 1935, senhora Maû, sua mãe, visitam o Pe. Nhá, pároco de Hua Bang. É a primeira vez que vê uma cidade grande.
Voltando para casa, Van fica na escola paroquial, pensando já viabilizar o sacerdócio. O Pe. Joseph Nhá admite-o como aspirante ao sacerdócio. Tinha sete anos. Uma semana depois, depois de decoradas as respostas começou a ajudar missa.
Pelo preferência do padre, os colegas se enciumaram. Ele mesmo, considerando-se o maior, indispôs contra si os catequistas. O chefe dos catequistas decide tornar sua vida insuportável. Tentou violentá-lo. Sob pretexto de formação à vida perfeita e penitências bati com chibata no aluno nú por terra. Depois de uma semana não podia nem deitar-se, nem sentar-se. E Van não podia contar, sob piores ameaças. Quando, fpois de uma semana foi descoberta a questão pela lavadeira, o padre proibiu o catequistas destes usos.
Numa ausência do padre, o catequista se vinga, deixando-o quase sem alimento. Mesmo para comungar devia ser batido antes. Para impedir a comunhão, o catequista lhe propõe uma ação ilícita a que ele recusa, apesar das ameaças de ser enterrado vivo. Tirou-lhe o alimento. Para não morrer de fome teve que deixar a comunhão. Para suprir a falta da comunhão buscava o terço que também lhe foi tirado. Pega sementes de fava e passa de um bolso ao outro para rezar. Estas também lhe foram tiradas. Sobram os dedos que ele não teme perder para não parar de rezar. Por fim, o catequista se foi.
Empregado do Pároco: Com a idade de 8 anos deve trabalhar como um empregado adulto. O padre só se preocupava com a construção da Igreja. Para aumentar os sofrimentos, um tufão tinge a região e destrói as plantações de arroz. Os alunos devem voltar à família. Ele, sendo de longe, não tinha notícia dos seus e deve permanecer, por força, na casa do pároco. As notícias da família não são das melhores, pois o pai abandonou-se totalmente ao jogo e bebida, perdendo as plantações de arroz e até as pedras que calçam a frente da casa. A mãe lhe comunica que não pode lhe enviar nem roupa, nem dinheiro. Em casa, nasce mais um irmão.
Acidente grave. Em 1937, o padre, partindo em visita pastoral leva consigo Van que tem 9 anos. Van ao subir em um muro, caiu, atingindo o joelho. E´levado então à casa de uma senhora que cuida dela por própria conta. Van a consideraria sua segunda mãe. Morre depois dele.
Fugas.
Van, com 12 anos, em 1940, não obtivera o diploma de estudos primários. O Pároco não lhe permitia seguir as aulas. Pediu para voltar para casa e o pároco não lhe permitiu. Como seguir a vocação? Foge e toma o caminho de Ngoc Bao. O padre manda procurá-lo e trazê-lo de volta. O Pároco mandou-o para a casa paroquial de Thai Nguyên. A situação não melhora. Foge e volta para casa, e por ser fugitivo é maltratado. A mãe foi levá-lo de volta ao pároco. Percebeu a situação, mas não pode levá-lo de volta, pela situação em que viviam. Agora cuidava dos gansos. Ao brigar com um maior do que ele sofre, e é ameaçado novamente. Diante da impossibilidade de fazer os estudos para padre, foge de novo, apesar de procurado, entra em um barco e vai para a estação ferroviária. Entra em um trem cheio de soldados japoneses que, agradando-se dele, permitem que viagem.Desceu em Vinh Yên, Depois para Yên Viên. Ali encontra duas irmãs franciscanas que viviam com ele na cassa paroquial de Hau Bang. Levaram-no a Dão Ngan, onde havia uma sua comunidade. Decidiram levá-lo de volta. Mas graças à irmã Ngam, sua parenta, pode partir, levando consigo algum dinheiro.
Duas semanas de aventura.
Van vagou pelas ruas de Bac Ninh. Tinha medo de voltar para casa, não conseguiu lugar em um ônibus para ir para a casa da tia. Empregou-se em um restaurante, mas não lhe pagaram. Depois de 3 dias saiu. Foi trabalhar com uma vendedora de sopa chinesa. Ela afeiçoou-se a Van e quis adotá-lo. Era muito pobre. O irmão dela, não gostava dele quis matá-lo com uma faca. Teve que ir embora. A história do menino que quase foi degolado se espalhou pela cidade. Muitos queriam adotá-lo. Uma delas levo-o para casa. Era pagã. Vã percebeu que a senhora queria vendê-lo, fugiu. Um cristão o acolheu, mas a mulher não gostava dele e criticava sua devoção. Expulsou-o de casa. Estava de novo na rua. Assim tornou-se mendigo. Permanecia em frente da Igreja ou na estação ferroviária estendendo a mão aos passantes após 5 dias já erra irreconhecível de tão magro, desalinhado, sujo.
Retorno a casa.
Um dia, pedindo esmola acaba estendendo a mão a um tio seu (Hang) que apenas suspeitou. Passou a mendigar no trem de Bac Hinh a Hanói. Esperava ter o dinheiro para voltar para a casa da tia, mas não dava nem para comer. Uma noite, estando em Yên-Viên, lembrou que no dia seguinte era domingo. Não alcançou o trem para a cidade. Tomou o trem para Lao-Kay. Desceu em Huong Canh e entrou na Igreja, para assistir à missa escondido. Os meninos o reconheceram. N dia seguinte teve de comparecer diante do velho catequista para pedir perdão por aquelas duas semanas de ausência. O pároco o repreendeu duramente. Ao meio do dia seguinte, Van, que tinha escrito uma carta, com o pretexto de levá-la ao correio, abandonou Huu Bang, dirigindo-se à casa da sua tia Kahn, onde ficou por suas semanas. A família o exigiu de volta, apesar de sua insistência de ficar com a tia.
Retornado foi tratado com um degenerado. O pai continuava na vida perdida. Os filhos não tinham o que comer. Tinham que trabalhar para sustentar o pai. A mãe não quer reconhecê-lo como filho. Na situação foge com a irmã, mas são pegos pelo pai e espancado. Da escola onde estivera vem a acusação de que tinha roubado 30 piastras de intenções de missa. Não pode se desculpar. Deus conhece a verdade, dizia. A história do roubo se esparramou pela aldeia.
Entra em sofrimento. Será que Deus também vai me suportar? Na confiança em Maria pede socorro. Faz uma confissão e o padre lhe diz: “Aceita de boa vontade todas essas provações e oferece-as a Deus. Podes crer que se Deus te enviou a cruz, pé porque Ele te escolheu”. Ele tem 12 anos. Naquela noite recebe uma luz que o faz ver claramente que o sofrimento é dom de Deus. Recebia a missão: transformar o sofrimento em alegria.
Pelos fins de janeiro de 1941, a tia Kahn, vindo visitar os parentes levou Van consigo para um pouco de descanso. Deu-lhe como trabalho levar o boi a pastar. O tempo ele gasta com suas devoções. Sua alma mantinha-se unida à Virgem Santíssima e por ela a Deus, sempre presente em seu pensamento.
Cinco meses depois, na festa da Ascensão, 22.05.41, o Pe Nhá, pároco de Huu Bang foi à casa de Van para pedir aos pais a autorização para que ele regressasse. A maioria dos meninos havia deixado e ele precisa de servidores. Para obter o retorno, o padre reconheceu a prefeita inocência da criança e sua conduta irrepreensível sob todos o pontos de vista. Ele volta.
Voto de virgindade.
Cruzada de pureza: Agora com 13 anos, Van procurou melhorar a situação espiritual dos meninos da casa paroquial. No mês de outubro, Van teve uma visão horrível dos pecados do mundo, sobretudo das faltas contra a pureza. Que queres que eu faça? Coloca-se diante da imagem de N.S.P.Socorro e diz: “Oh Mãe, faço voto de conservar a virgindade, com vós durante toda a minha vida. Sentiu o coração inundado de felicidade. No dia seguinte cria uma associação entre os mais jovens para auxílio mutuo e defesa no regulamento e no progresso espiritual da casa paroquial. Eram o Grupo dos Anos da Penitência. A conduta destes meninos era uma repreensão aa falta de fervor e à negligência dos mais velhos, o que lhes valeram chibatadas.
Seminário menor de Lagson:
Após a festa do Natal de 1941, Van recebeu do seu amigo Tân, seminarista em Lagson, uma carta anunciando que o padre dominicano, diretor da instituição, aceitaria de bom grado outros alunos. Com a licença do pároco, ele entrou no seminário menor, no início de 1942. De início tímido, mas conquistou a confiança dos padres que eram franceses. Avançava rapidamente na vida espiritual. Ser padre era todo o seu desejo.
Seis meses após, o seminário fechou as portas porque faltavam recursos e porque os japoneses requisitaram a casa. Nessa situação, ele escreve ao Pe. Drayer Dufer, a quem estava ligado no seminário, para que lhe encontrasse uma solução.Dia 13 de agosto chegou a respostas dizendo que fora escolhido para continuar seus estudos em Quag Uyen. Assim ficava com os dominicanos e continuava seus estudos com mais três colegas. A alegria durou pouco, pois veio uma seca muito forte que queimava os campos. O padre tira os alunos da escola e manda cada um cuidar de uma vaca, levando a pastar ao pé da montanha. Três meses depois a situação melhorou e voltaram às aulas.
Da leitura de uma santa à sua escuta.
Em Quamg Uyen, Van procurava na intimidade com deus e sentia um grande desejo de alcançar a santidade. As vidas de santos que lera o desencorajavam. Pediu à Virgem Maria que o guiasse na escolha dos livros espirituais. Pegou um chamado a História de uma alma. Nutriu por Santa Teresinha um afeto de irmão menor. Uma manhã, contemplando o sol que nascia, ouviu uma voz: - Van, Van, meu irmãozinho! – Santa Teresinha, minha irmã? Respondeu Van. Si, eu mesmo. Deus quer que as lições de amor que êle me ensinou outrora, no segredo da minha alma se perpetuem no mundo, por isso dignou-se escolher você com pequeno secretário, para executar o trabalho que deseja confiar-lhe. Você sempre caminhou no seguimento de Deus, procurando vivamente dar-lhe prazer. É nisso precisamente que consiste a santidade. Irmãozinho, siga meu conselho: esteja sempre atendo em oferecer a Deus o seu coração, os seus pensamentos e todas as suas ações. Nosso Pai celeste não despreza as pequenas coisas. De agora em diante, irmãozinho, em sua relação com o Pai, siga os meus conselhos.
Na tarde deste dia feliz, às escondidas, Van retornou ao pe da montanha. A santa lhe falou novamente. Depois de lhe ter ensinado a maneira de conversar familiarmente com Deus, recordou-lhe a necessidade de rezar pelas crianças, pelos pecadores e pelos sacerdotes....” Um dia pediu licença para dizer algo que poderia entristecê-lo; em seguida, disse-lhe: Deus me deu a conhecer que você não será padre... o estado de vida mais excelente é o de se conformar em tudo com a Vontade de Deus...Você será religioso. A Virgem Santíssima lhe dará a conhecer a congregação na qual deverá entrar.
Um sonho maravilhoso: limpando um armário encontrou um punhado de revistas de N. S. P. Socorro publicada pelos redentoristas de Hanói. Lendo-as avivou o interesse de entrar para a Congregação do Santíssimo Redentor. Teresinha lhe diz que é a congregação que Nossa Senhora escolheu para ele...Se você quiser se tornar religioso redentoristas deverá aceitar ser maltratado como o foi Jesus Redentor.
Os sofrimentos começaram. Van pediu ao padre de quem dependia de que queria ir a um juvenato. Ele indicou os dominicanos. Mas ele queria os redentoristas. Irritou-se mais ainda porque fora porta voz das crianças em algumas das reivindicações sobre os alimentos que lhes faltavam. Expulsou-o e ele voltou à paróquia de Huu Bang, sem passar na casa dos pais. Posteriormente vai lá e a mãe dá o consentimento para que ele entre para os redentoristas desde que o pároco desde que o pároco esteja de acordo.
Escreveu aos redentoristas, mas com um endereço ilegível para esconder do pároco. O superior respondeu ao pároco para saber quem era. O pároco se ofendeu e retirou toda sua ajuda. “Vá aonde quiser, , mas terá que se virar sozinho”. Assim escreve uma segunda carta. O padre dá a resposta dizendo que se quisesse ser padre, deveria ir para o juvenato, se quisesse ser irmão, que esperasse 3 anos. Tentou outras cartas, mas sem resultado. S. Teresinha o aconselha a manter correspondência com os padres. Escreve ao Pe. Antonio Boucher, mestre de noviços que lhe ensina sobre a vida redentorista.
O pároco, em suas visitas pastorais, dava a Van o cuidado da catequese das crianças. O que os outros não queriam, ele adorava fazer. Van sabia lidar com elas, com brincadeiras e ao mesmo tempo ensinando. Amava as crianças por causa de suas almas puras e seus corações habitados por Deus.
As despedidas da Família:
Dia 22 de junho de 44, Van recebe uma carta do Padre Maurício Letorneau autorizando-o a entrar imediatamente para o convento. Exigia-se um enxoval. Ele não tem nada e a família é pobre. O Pe. Nhá lhe diz: “ Se você entra para um convento, é por conta sua e não pela minha. Como tem coragem de me pedir para preparar o enxoval? Sua senhora amiga, Sal, não o quis ajudar porque estava decepcionada com aquela decisão. Esperava que se casasse com sua filha. Dia 27 de junho, Van deixou a casa paroquial e foi para a de seus pais. A família se cotizou para o que era prescrito, que na realidade não era tudo exigido. No dia 15 de julho, a família assistiu a missa. Na hora de sair ainda faltava o par de sapatos de couro. Quem lhe dá é um jovem adotado pela família. Sai de casa acompanhado pela mãe até à altura dos arrozais. Neste momento ela lhe dá os últimos conselhos. Pouco adiante foi atacado por guardadores de búfalos que lhe roubam as coisas. É defendido pela mãe. Vai para Am Duong e lá passa a noite na casa paroquial. No dia seguinte toma o trem para Hanói. E pelas 9 da manhã estava no convento dos redentoristas.
É dia 16 de julho. Pe.Létorneau acolhe com benevolência e pergunta, diante da pequenez, quantos anos tem: 16. Pensou que não fosse verdade. O superior, Pe. Couture lhe diz: se quiser pode ir para o juvenato e fazer os estudos para padre. Ou terá que esperar. Van responde que Deus não que eu seja sacerdote. Então volte para a casa e regresse mais tarde. O padre lhe deu dinheiro para a volta. Voltou para casa. A mãe escreve ao superior pedindo que o aceite e indica os motivos dos perigos de estar em casa. Van voltou para o convento e era dia 1 de agosto. Não foi aceito na comunidade e ficou na acomodação do porteiro. A hospedagem era da pior. Passou dos meses e meio no sótão. Sofreu, mas sentia a consolação de sua santa.
Enfim, na comunidade:
Chegou o dia 16 de outubro, festa de S. Geraldo. Van havia feito uma novena fervorosa para ser admitido no convento naquele dia. Passaram-se os dias e nada. No dia 18, celebra-se o Pe. Reitor, Panfílio Couture. Aconselhado por Teresinha, já na tarde de 17, Van foi ao locutório para desejar-lhe boas festas. O padre que o rejeitara diz: é com alegria que o recebo na comunidade, hoje à noite. Pouco depois Van foi apresentado à comunidade que o acolheu e lhe deu o quarto.
As cruzes continuam: Ridicularizavam de seu tamanho e cada de menino. O tamanho lhe prejudicava os trabalho pesados, o que lhe ocasionava ser chamado de preguiçoso. Crescia na caridade fraterna buscando os dons dos confrades. Nesse início recebeu o nome de Marcel, conforme o costume da congregação. Queria ser chamado de Marcel do Menino Jesus, mas o superior não permitiu.
Intimidade divina:
Deus o chama, desde o postulado a um diálogo divino. Em determinada tarde, escreve ele ao mestre, trabalhando e pensando no amor de Jesus sofredor, sentia que Deus se encontrava perto de mim e me amava muito e o sentimento daquele amor me causava uma imensa alegria. Ouço uma voz que me dizia com doçura: Marcel, você me ama muito? Sim, meu Deus, eu te amo muito. Fora de ti não sei o que poderia amar.Eu te amo muito, muito...” Foi o início de uma intimidade quase contínua com o Senhor, que comunicava seus ensinamentos a Marcel... Não só falava, mas exigia que falasse de suas coisas.
Marcel tem consciência espiritual do mal do mundo, a partir de encontros e diálogos com Jesus. Prova igualmente a misericórdia de Deus na cura de seu pai que voltou à confessar e comungar.
O Noviciado e a profissão
No mês de agosto de 1945, o Irmão Marcelo foi admitido ao noviciado. Esta feliz notícia chegou-lhe quando ele menos esperava, se é que a esperava ainda. Desde o início do noviciado, Jesus foi o seu companheiro de estrada, caminhando ao seu lado, sem cessar, até o final daquele ano de prova.
O dia 8 de setembro de 1946 foi, para o querido irmão, um dia três vezes feliz. Em primeiro lugar, porque era a festa da Natividade da Mãe de Deus; em segundo lugar, porque era o aniversário da profissão religiosa da sua irmã muito amada, Teresa de Lisieux e, finalmente, porque ele mesmo obtinha o que esperara por tanto tempo – fazer a profissão no mesmo dia da sua querida santa.
Na alegria inebriante do dom total de si mesmo a Deus, naquela bela festa, o feliz professo teria podido morrer de amor. Mas Jesus queria conduzi-lo antes ao cume do Calvário, para morrer na cruz juntamente com ele. O Irmão Van pressentiu-o, quando escreveu no seu diário íntimo: “Quando realizar-se-á esta visão longínqua, da qual tenho sede atualmente, como um homem que chegou aos limites da sua força?”.
Na comunidade de Hanói
Após a sua profissão, agora membro da comunidade, o Irmão Marcelo foi nomeado alfaiate. Teve receio, mas o superior disse: “O que você não for capaz de fazer, Deus estará ali para ajudá-lo a fazer, porque você obedece sinceramente ao superior. Foi um excelente alfaiate. Depois teve que aceitar o da sacristia.
Nas comunidades de Saigon e de Dalat
No dia 7 de fevereiro de 1950, o Irmão Marcelo embarcava de avião em direção a Saigon. A intenção dos superiores era de proporcionar-lhe um tempo de repouso em uma comunidade menos numerosa do que a de Hanói.
O Irmão permaneceu ali por dois anos. Progredia visivelmente no amor de Deus e do próximo. Depois subiu a Dalat, estação de montanha, que os europeus compararam à Suíça, pela beleza do lugar e pelo frescor do clima. Foi ali que o caro Irmão viveu os seus últimos anos no Vietnã do Sul, na grande comunidade da casa do estudantado, em companhia de numerosos estudantes. Foi aí que fez a profissão perpétua, no dia 8 de setembro de 1952.
Volta a Hanói
Em julho de 1954, o Vietnã do norte foi cedido aos comunistas. Aconteceu então o grande êxodo dos católicos do norte em direção ao sul. Alguns Redentoristas deviam permanecer na casa de Hanói, para cuidar dos cristãos, agrupados na paróquia, após a evacuação. O Irmão Marcelo ofereceu-se como voluntário para residir naquela casa de Hanói. Aos 26 anos de idade, religioso há 9 anos, o Irmão tinha sobressaído por sua grande piedade, perfeita regularidade, espírito de trabalho e de sacrifício. Desde o noviciado, desejava o martírio... Chegando a Hanói, ainda afirmava estar disposto a sofrer todos os tormentos e até mesmo a morte, por amor de Deus.
Preso e no cárcere
Em 7 de maio de 1955, Van parte ao mercado. Na rua, ele ouve pessoas discutirem contra o governo do Sul, que eles acusam das piores abusos de poder. Então, secamente, ele interrompe os faladores: - “Eu estou chegando do Sul. E eu posso lhes dizer que esse governo não agiu de forma...Um grande silêncio segue as palavras de Van...Durante dias, nos escritórios da Segurança, Van é submetido, das 7 horas à meia noite, a interrogatórios intermináveis para fazer-lhe confessar que é um inimigo do regime Resistiu com coragem, rezando continuamente. Esta constância causou admiração em uma jovem senhora, advogada, que assistia ao processo e que fez a seguinte observação: “Uma tal força de alma em um jovem como o Irmão Marcelo é o testemunho da extraordinária vitalidade do espírito católico”.
A prisão central de Hanói
Diante da heróica resistência do Irmão Marcelo, os comunistas perderam a esperança de obter a mínima confissão de sua parte. Cessam a pressão e enviam o Irmão à prisão central de Hanói. Daquele período, temos algumas cartas, trazidas por prisioneiros postos em liberdade. Escreve à irmã: “Na prisão, como no amor de Jesus, nada pode retirar-me a arma do amor. Nenhum sofrimento é capaz de apagar o sorriso carinhoso que deixo transparecer habitualmente no meu rosto emagrecido. E para quem é o carinho do meu sorriso, se não para Jesus, o meu Bem Amado?” ... “Só me resta o amor e, com o amor, uma vontade heróica. Sou a vítima do Amor e o Amor é toda a minha felicidade, uma felicidade indestrutível”.
O Irmão Marcelo permanecerá sempre alegre e sobrenatural. Para com os demais prisioneiros, mostrava-se muito caridoso. Não somente os consolava com palavras de conforto, mas partilhava com os mais desprovidos o seu alimento, as suas roupas, remédios e dinheiro. Ele foi condenado a quinze anos de prisão.
A pequena irmã Anne Marie Tê partiu para o Canadá. Ele escreve a ela: “Depois de ter estado preso durante cinco meses, numa cela obscura, que as pessoas chamam de ‘San lim’, foi-me permitido sair para o campo exterior, melhor arejado. Vários irmãos estavam detidos comigo, mas agora eles foram dispersos em outras regiões e eu ignoro em que eles se tornaram.” “O inimigo pode destruir meu corpo, mas ele não pode abalar minha vontade. Ore muito por mim, para que eu não tenha a coragem de lutar com ardor até o fim”.
Campo de Mochen
“Desde que cheguei aqui, o meu trabalho se assemelha ao encargo de um padre de paróquia. Fora das minhas horas de trabalho forçado, devo receber as pessoas e aconselhá-las. Todos me procuram, pensando que sou um homem incansável. Vêem que sou fraco, mas onde podem encontrar consolo? Então, é bem necessário que eu me doe”. “Agradeço de coração a Deus. Estes meses de prisão não causaram qualquer prejuízo à minha vida espiritual. Muito freqüentemente Deus me faz ver que é a sua vontade que estou realizando aqui. Diversas vezes pedi que me viesse buscar... A cada vez parecia-me que Ele respondia: ‘Caro filho, pense em todas estas almas que o procuram em busca de consolação, que distribuo por seu intermédio. A quem iriam e como eu chegaria a elas, se você não estivesse aí?’ E só posso responder com uma palavra: Meu Deus, quero obedecer-te em tudo”.
Campo de Yen Binh
Agosto de 1957. Ele é transferido para Yen-Binh (150 km ao nordeste de Hanoï). Ele tenta fugir, é preso de novo, espancado, preso na solitária... Durante dois anos! Declaram-no “irrecuperável”. Então, nada de visitas, nada de correio, nada de luz, exceto aquela que brilha no fundo do coração dele.
Durante os dois últimos meses da vida, o Irmão Marcelo não pôde enviar mensagem alguma. Sabemos, no entanto, de outros prisioneiros, que ele irradiava fé, paz e alegria. Muito enfraquecido pela doença, sofrendo de beribéri e de tuberculose, ele morreu no dia 10 de julho de 1959, ao meio-dia, assistido pelo Padre Vinh, Vigário Geral de Hanói.
Epílogo
Durante toda a sua vida, sob a direção de Santa Teresinha, de Maria e de Jesus, Van tornou-se um pequeno redentor, correspondendo à missão de apóstolo escondido do Amor, pela oração e pelo sacrifício. Aprendeu a transformar o sofrimento em felicidade, introduzindo as almas no amor de Jesus. Escreveu muito, tornando-se, por obediência, um pequeno secretário de Jesus. Atualmente, por seus escritos e intercessão, do céu continua a sua missão. Da África e da Ásia, da Austrália, do Brasil e da Argentina, dos Estados Unidos e do Canadá, da França e de toda a Europa chegam mensagens daqueles que, graças a Van, descobrem, como Teresinha ensinou a seu irmãozinho logo no primeiro encontro, que “Deus é Pai e que este Pai é Amor”. Na escola de Teresinha, Van se tornou um verdadeiro discípulo de sua “grande irmã” que dizia:
“No coração da Igreja da minha Mãe, eu serei o Amor”.
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